sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

CARNAVAL

Esse pessoal de hoje
vai brincar o Carnaval
não liga para ninguém
quem quiser que se dê mal
ôh coisinha sem graça,
todo mundo nu na praça
com um tal de fio dental.

(anilda figueiredo)

domingo, 26 de junho de 2011

COMO ESCREVER EM VERSO

Pra se fazer um cordel
num careçe ser letrado
e nem diplomado não,
basta olhar com cuidado
quando o dia amanhece
ou quando desaparece,
o verso idealizado.

E você vai descascando
cada pét'la da roseira,
pracure marcar as rimas
com os espim da laranjeira,
veja que coisa gostosa
ouvir a voz maviosa
das águas na cachoeira.

Respire o ar da saudade
sinta o perfume da flor
capriche mais na estrofe
não rime dor com amor
arranque do coração
tinta para a estrofação
que vem de Nosso Senhor.

Só faz um verso bonito,
-digo e não peço segredo-
aquele que tem amor
e escreve sem ter medo.
Ouça a voz do coração,
sinta um aperto de mão
de Anilda Figueiredo.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

CACIMBINHA (Zé da Luz)

Tá vendo aquela cacimba
lá na beira do riacho
inriba da ribanceira
que fica assim por debaixo
do pé de tamarineira?

Apois um magote de moça
quaje toda menhazinha
forma assim aquela tuia
involta da cacimbinha
pra tomar banho de cuia.

E eu num sei proquê razão
as águas dessa nascente
as águas que ali se vê
tem um gosto diferente
das cacimbas de beber.

As águas dessa cacimba
tem um gosto mais mió
nem salgada nem insossa
tem um gostim de suor
do sovaco dessas moça.

E quando invejo minha cara
e a cara torno a espiar
naquelas águas quilara
eu me vejo a desejar,
desejo pra que negar?

Desejo é ser um caçote
cum os zóios desse tamanho
pra ver aquele magote
de moça tomando banho.

domingo, 29 de maio de 2011

Festa de São João

Quanta saudade eu sinto
do São João de antigamente
que a gente brincava muito
e dançava bem contente
era tudo engraçado
com um matutinho de lado,
era tudo diferente.

O São João de antigamente
tinha q-suco e aluá,
canjica, pamonha, paçoca,
chapéu-de-couro e fubá
pé-de-muleque e sequilho,
bolo de puba e de milho,
arroz doce e macunzá.

E pra gente se alegrar
uma caninha brejeira,
a famosinha fubuia,
velha cana brigadeira,
uns bebiam caipirinha
esperta, porém docinha,
na derruba era ligeira.

Com a faca na bananeira
no outro dia sabia
com quem ia se casar
a gente se divertia
todo mundo se alegrava
um dançava, outro dançava
até amanhecer o dia.

Improvisava a quadria
e saía de par em par
viva a noiva! viva o noivo!
a festa vai começar!
chamava um bom sanfoneiro
e nós no mei do terreiro
dançava até se cansar.

Cuidado pra não errar
preste atenção, minha gente!
camim da roça, olha a chuva...
hoje é tudo diferente...
faria tudo de novo
pra ver, outra vez, meu povo
no São João de antigamente.
          (Anilda Figueiredo)

quarta-feira, 18 de maio de 2011

O EFEITO DO VIAGRA

Correu aí um boato
de um remédio milagroso
que a ciência descobriu
mode fazer o idoso
ficar novo novamente
sei que a ciência num mente
mas eu acho duvidoso

duvido sim da ciência
e do boato do povo
que o home depois de véio
volte a ser novo de novo
eu tenho é plena certeza
que quem força a natureza
nunca tem dela o aprôvo

Seu Lulu do Pé da Serra
ainda tá um véião duro
cum sessenta e poucos anos
forte, corado e seguro
mas pra muié, meu rapaz,
tá cum bem dez ano ou mais
que o home tá sem futuro

E a pobe da muié dele
que é mais nova um bocadão
dêrna que Lulu pifou
que é grande a sua aflição
tem respeito em alto estilo
mas quando pensa naquilo
fica suspensa do chão

E eu tive oportunidade
de conversar um pouquim
cum a muié de seu Lulu
e ela disse pra mim:
sabe moça que nem presta
a muié ser muito honesta
quando o marido é assim!

Eu disse mas tudo isso
saiba que acabou agora
se assente e se aprepare
que eu vou falar pra senhoa
vou dizer toda a verdade
sobre a grande novidade
que rola de mundo a fora.

Vou lhe falar do Viagra
vei dos Estados Unido
viagra, que diabo é isso?
eu dixe é um cumprimido
que foi feito em alto esquema
pra resolver o pobrema
de seu Lulu, seu marido

Só que esse cumprimido
num mata fome nem cêde
mas pro home que se deita
e espanca a muié na rede
lhe achando feia e magra
se ele tomar um viagra
se atrepa até nas parede

A muié correu vexada
e lá se vem pra meu lado
cum pedaço de papel
um lápis mal dispontado
quis chorar e quis sorrir
e dixe escreva aí, home
o nome desse danado

Aí então escrevi
e entreguei o nome a ela
e ela dixe obrigada
por essa ajuda singela
Jesus abençoe a tu
se Deus quiser e Lulu
tá terminada a novela

No outro dia vendeu
um porco gordo que tinha
dois cabrito, três piru,
cinco pato, três galinha,
arrumou roupa e sapato
e impurrou Lulu pro Crato
mode comprar a meisenha

Quando ele chegou em casa
a muié deu-lhe um abraço
seu Lulu tomou um banho
mode tirar o cansaço
e dixe pra sua esposa:
eu hoje faço uma cousa
que há muito tem nun faço.

Tomou de noite o remédio
foi se deitar sastifeito
a mulher também deitou
ocupando o mesmo leito
ficaro então prozeando
os dois então esperando
que o bicho fizese efeito

Já era de madrugada
porém nada aconteceu
e por esse meio de tempo
seu Lulu adormeceu
a mulher disvanecida
desesperada da vida
queria até culpar eu.

Mais tar o véi se acordou
e cutucou a muié
e ela desanimada
lhe perguntou: o que é?
quer alguma coisa, vem!
só que falou cuma quem
já tinha perdido a fé.

Seu Lulu dixe:
tou cum vontade
tenho que dizer a tu
ela perguntou vexada:
vontade de que, Lulu?
diz logo por caridade!
Ele dixe a vontade
que eu tô é de dar o ...
nada não deixe pra lá!

(Luciano Carneiro, da Academia dos Cordelistas do Crato)

domingo, 15 de maio de 2011

A COISA PIOR QUE EXISTE

A coisa pior que existe
é o cabra correr na pista
num carro véio sem freio
e um chufer curto da vista
e um doido gritando em cima:
arroja o pé, motorista!
     (autor desconhecido)

DOUTOR INTÉ OUTRO DIA

Doutor inté outro dia
basta você precisar
um criado às suas ordens
na Serra do Jatobá

Pros almoço tem galinha
tem quaiada pro jantar
água cheirosa de tanque
pra vosmecê se banhar

Leite quente ao pé da vaca
quando o dia amanhecer
café torrado no caco
de quando invez pra você

Aguardente potiguar
caso goste de beber
capim mimoso verdinho
pra seu cavalo comer

Pra vosmecê fazer lanche
mel de abelha com farinha
tem da fonte milagrosa
água fria na quartinha

Pra vosmecê se deitar
uma rede bem arvinha
leve tombém sua muié
proque lá só tem a minha
      (Zé Praxedes)